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Sumiço de Belchior inspira bloco, que pede volta do rapaz latino-americano

O cantor Belchior no Prêmio da Música Brasileira, em 1994 - Divulgação/Ministério da Cultura
O cantor Belchior no Prêmio da Música Brasileira, em 1994 Imagem: Divulgação/Ministério da Cultura

Miguel Arcanjo

Colaboração para o UOL

18/02/2017 10h00

O sumiço do cantor Belchior, compositor de sucessos como “Apenas um Rapaz Latino-Americano” e “Como Nossos Pais”, inspirou o nome do mais novo bloco do Carnaval de Belo Horizonte. O estreante Volta Belchior desfila no sábado (25), a partir das 14h, pelas ruas do tradicional bairro de Santa Tereza, com concentração na rua Mármore, 170.

A bateria conduzida pelos mestres Eros Fresiq e Manjado já tem cem componentes, além de banda com seis integrantes com o vocalista Sylvio Rosa à frente. Foi ele quem fez arranjos para as músicas de Belchior em ritmos de samba, samba reggae, maracatu e marchinha.

Fã de Belchior desde a adolescência, o jornalista Kerison Lopes, mineiro de Bom Sucesso radicado em Belo Horizonte, foi quem idealizou o bloco, ao lado do produtor cultural Pedro Martins. “Surgiu como uma forma de homenagear o artista cearense. Não só a sua produção musical, mas também seu comportamento”, diz Kerison, que cultiva um bigode semelhante ao do ídolo.

Para o jornalista, além de letras “que debatem profundamente a nossa existência”, Belchior também chama atenção por sua atitude. “Ele sempre se diferenciou de outros artistas que aderiram ao sistema, pois ele sempre atuou com integridade, nunca aceitando fazer concessões à indústria cultural. O seu rompimento com tudo e seu refúgio é mais uma prova disso”, fala sobre o sumiço voluntário do cantor.

“Produtores ofereceram pagar todas suas pendências financeiras em troca da sua volta. Mas ele permanece no seu isolamento longe dos holofotes. Essa firmeza nos princípios acabou aumentando a lenda que já permeava sua trajetória”, diz o fã.

Bob Dylan brasileiro

Kerison considera Belchior, que completou 70 anos em 2016, o Bob Dylan brasileiro. “Destaco que o sumiço do bigodudo do Ceará remete ao sumiço de Dylan, que em 1966, após um acidente de moto e toda controvérsia da turnê com guitarra elétrica, isolou-se por oito anos, recusando, inclusive, um convite para tocar em Woodstock”, lembra.

A história traz esperança ao jornalista. “Isso nos dá um alento, pois quando Dylan voltou conseguiu ser ainda melhor. Quem sabe Belchior, que, aliás, cita Dylan na canção ‘Lira dos Vinte Anos’, não está tramando uma volta triunfal com um manancial de canções geniais. Por acreditarmos nisso é que clamamos: ‘Volta, Belchior’!”.

Mesmo assim, o criador do bloco afirma não querer forçar o cantor a reaparecer. “Respeitamos e valorizamos o seu ‘direito de desaparecer”, avisa Kerison, que espera entre 5.000 e 10 mil foliões no dia do desfile. “Mas como nosso Carnaval tem surpreendido sempre, pode ser que supere essa expectativa”, analisa.

E se houver uma surpresa daquelas e Belchior aparecer no desfile? Kerison pensa e responde: “Em se tratando de Belchior, tudo pode acontecer. O receberíamos com amor e afeto. Mas gostamos demais do nosso ídolo para fazer uma crueldade dessas com ele. Quando Belchior foi embora, o Brasil era outro. Hoje, vivemos na fase das trevas e do obscurantismo no nosso país. Acho que eu diria uma única frase ao cantor: ‘Me leva, Belchior!’”, conclui.

Bloco Volta Belchior
Quando: Sábado (25), 14h
Onde: Saída da Rua Mármore, 170, Santa Tereza, Belo Horizonte