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Blocos de rua

No Carnaval do Rio, Carmelitas exalta diversidade e critica Crivella

Bloco das Carmelitas anima foliões no Rio de Janeiro - Marcelo de Jesus/UOL
Bloco das Carmelitas anima foliões no Rio de Janeiro Imagem: Marcelo de Jesus/UOL

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

09/02/2018 19h26

"Sambam judeus e ateus / Todas as crenças / No mesmo bonde a brincar / Exaltando a arte, a liberdade / Compaixão, diversidade". Foi com estes versos que o Bloco das Carmelitas abriu o Carnaval de Rua do Rio de Janeiro na tarde desta sexta-feira (8). Mesmo em dia útil, as ladeiras do bairro de Santa Teresa, região central da cidade, ficaram lotadas para acompanhar. Neste ano, o bloco teve como tema a diversidade e não poupou críticas ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella, no samba e durante desfile. Com o morro do Pão de Açúcar como plano de fundo, a folia começou às 15h, com um samba-enredo que destacou a pluralidade de religiões.

À frente da bateria, a perna-de-pau Raquel Poti explicou o tema deste ano. "Há dois anos os pernas-de-pau vêm representando a diversidade, e este ano o bloco inteiro vem com o tema devido a essa onda de repressão que estamos enfrentando no Rio e no mundo inteiro", destaca Raquel, que é destaque do bloco há nove anos.

Bloco das Carmelitas anima foliões no Rio de Janeiro - Marcelo de Jesus/UOL - Marcelo de Jesus/UOL
Fantasia da perna-de-pau representa a diversidade, tema do Carmelitas em 2018
Imagem: Marcelo de Jesus/UOL
O Carmelitas desfila duas vezes durante o Carnaval, e o nome é em homenagem ao convento de mesmo nome que foi fundado junto com o bairro. Segundo a lenda, uma freira pulava o muro para curtir o Carnaval do bairro. Então, o desfile na sexta seria para ela sair do convento e o desfile de terça seria para ela voltar às obrigações religiosas. 

A lenda também conta que os foliões deveriam usar capuz de freira para que a "fugitiva" conseguisse se camuflar na multidão. Mas em 2018 ela não teria muita ajuda. Além da escassez das tradicionais fantasias de freira, as poucas que podiam ser vistas no bloco desta sexta não eram suficientemente recatadas. A foliã Carmem Gomes, por exemplo, define a si mesma como uma "freira piriguete".

“Todo ano eu mudo a roupa e só mantenho o véu. O importante é se sentir bem, se sentir sexy e se divertir. Carnaval é isso. O dia-a-dia já é tão difícil, né?”, ressalta ela.

Para Jorge Crespo, diretor do bloco, o diferencial do Carmelitas é a participação de todo o bairro de Santa Teresa nos preparativos e no desfile. 

“O Carmelitas se mantém fiel às tradições e ao bairro. A bateria é de moradores, a confecção das fantasias é feita por moradores que aprendem em oficinas que fazemos aqui. O bloco não é da direção, é de todos”, frisa o também carnavalesco.

A fantasia de Jorge este ano homenageia Chacrinha, e a fantasia da Carmelita, a boneca que vem à frente do bloco também reforça o tema do ano.

"A Carmelita [a boneca] vem representando a esperança que a gente tem em dias melhores, de mudança, de tolerância. A gente quer acreditar que é possível mudar", ressalta Jorge, que também foi um dos fundadores do Carmelitas há 28 anos.

Desde a fundação, o bloco atrai adultos, jovens e crianças, ainda que elas não entendam muito bem. O casal Tatiana e Marcos mora no Rio e sempre frequentou o Carnaval de Rua. E o nascimento de Artur, há dois anos, não fez com que eles desistissem da folia. Agora, os três combinam fantasias e aproveitam blocos juntos. "A gente vai administrando pra ver até onde dá pra ir com ele e aproveitar também", explica Marcos.

Elisa usa o Carnaval para conscientizar foliões sobre males do mosquito que transmite a dengue - Marcelo de Jesus/UOL - Marcelo de Jesus/UOL
Elisa usa o Carnaval para conscientizar foliões sobre males do mosquito que transmite a dengue
Imagem: Marcelo de Jesus/UOL
E se o momento foi de festa pra família, a funcionária da prefeitura do Rio Elisa aproveitou para conscientizar a população. Junto com mais três amigos, ela decidiu dedicar o Carnaval a conscientizar os foliões sobre os perigos do mosquito da dengue. A fantasia bem elaborada foi a forma mais atraente que encontrou para passar o recado. "Não conhecia o Carmelitas mas vim hoje para fazer esse trabalho de conscientização. Vamos até a quarta-feira assim", diz ela.

Já as amigas Isabela e Vitória, de 21 anos, fizeram sucesso com a fantasia de Tinder. Em papelão, desenharam o símbolo do aplicativo de paquera. O motivo da escolha? Pouco dinheiro para fantasias elaboradas. “Como todo mundo usa Tinder, todo mundo entendeu a brincadeira. Foi barato, simples e criativo”, explica Isabela. 

E o principal motivo que faz, para elas, o Carmelitas ser o melhor bloco que desfila em Santa Teresa não tem nada a ver com conventos. "Só tem gente bonita", destaca Vitória.