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Blocos de rua

Bloco Terreirada Cearense leva Nordeste para o Rio em homenagem ao Cariri

Foliões se reúnem no bloco Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro - Bruna Prado/UOL
Foliões se reúnem no bloco Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro Imagem: Bruna Prado/UOL

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

10/02/2018 19h35

Na tarde deste sábado (10), o parque da Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro, se transformou em um pedacinho do Nordeste. No terreno da residência que um dia foi da Família Imperial Brasileira e ao lado do Museu Nacional, o bloco Terreirada Cearense embalou foliões ao som de clássicos como “Reconvexo” e “Eu só quero um xodó”. O show de cores e coreografias em homenagem aos ritmos regionais do Norte e, principalmente, Nordeste do Brasil, agradou os milhares de foliões mesmo com a sensação térmica de 46,1°C.

Para Diego Oliveira, integrante do bloco há dois anos, a relação é quase pessoal. "Um amigo me apresentou o bloco com vídeos. Como meu pai é paraibano e eu tenho no sangue essa coisa nordestina e amo a música nordestina, gostei muito", revela o rapaz que atualmente mora em São Paulo mas não deixa de viajar para o Rio de Janeiro só para curtir o Terreirada.

Foliões se reúnem no bloco Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Foliões usam pernas de pau no bloco Terreirada Cearense
Imagem: Bruna Prado/UOL
O destaque do bloco ficou por conta dos 40 artistas que apresentaram danças e interagiram com o público em pernas de pau. Diego é um deles. Para o publicitário, o Terreirada tem um caráter artístico fundamental.

"Eu precisava de uma expressão artística, e a perna-de-pau e o bloco me fizeram pensar em tudo: fantasia, maquiagem. Comecei a fazer com o bloco!", revela ele ao ser questionado sobre a impecável maquiagem que usava para a apresentação.

Neste ano, o Terreirada teve como enredo o "Cariri Encantado", e a inspiração principal para os figurinos foram orixás, que ganharam uma ala exclusiva no bloco. Para Marcela Braga, de 36 anos, o Terreirada surgiu como consequência de um amor antigo: o forró. Fã do ritmo há 20 anos e integrante do bloco também há dois, ela destaca a importância da ala dos orixás.

Foliões se reúnem no bloco Terreirada Cearense, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Foliona no bloco Terreirada Cearense
Imagem: Bruna Prado/UOL
"Terreirada traz ancestralidade, é um trabalho também espiritual. E ele combate também o preconceito contra o nordestino, o Nordeste, que é tão forte ainda. E essa música mexe com nosso coração, nosso sentimento", pontua a contadora.

Tchela, como é conhecida, confessa que a relação com o forró rendeu um presentão. "Meu filho nasceu do forró! Hoje ele tem 12 anos, mas eu comecei a dançar forró, casei e ele veio. Hoje ele não gosta, mas quem sabe quando ficar adulto?", sonha.

Para Cauê de Souza, 25, o Terreirada foi uma ótima dica dos amigos. Estreante no Carnaval do Rio, o profissional de marketing se derreteu pelo bloco. "Há muitos paradigmas sendo quebrados. O antigo brega vira sucesso, é muito bom", ressalta ele em relação ao estilo musical predominante.

Deixa que eu cuido... mas não muito

No mesmo parque, a poucos metros de distância, o bloco Deixa Que Eu Cuido não conseguiu atrair muitos adeptos. A proposta do bloco, nada tradicional, é montar um espaço seguro para que homens cuidem de crianças enquanto as mães aproveitam a folia. Entretanto, neste sábado, somente quatro pais, além dos organizadores, estiveram presentes. Para o biólogo Rafael Carvalho, 29, a pouca adesão se deve ao entendimento de que o cuidado com crianças não é responsabilidade de homens.

"O Carnaval é simbólico, porque é momento do homem curtir e não ter de cuidar do filho. Então o bloco é um modo de puxar essa discussão, de tentar encontrar outros pais que, sabemos, também cuidam dos filhos. Mas parece que os pais ainda não se sentem preparados para isso, parece ser uma vergonha", analisa.

Apesar da pouca adesão, Rafael não pretende desistir da discussão. "Nossa proposta é que mais pais venham, que mais homens queiram proporcionar para uma companheira ou amiga este momento de brincar o Carnaval", declara o pai da pequena Íris, de 8 meses.