Caboclos de Lança gastam até R$ 3 mil em roupas usadas no Carnaval
Felipe Branco Cruz
Do UOL, em Nazaré da Mata (PE)
O município de Nazaré da Mata, na Zona da Mata, a 65 km de Recife, recebeu nesta segunda-feira (8) o tradicional encontro de Maracatu Rural com 38 grupos de 15 cidades diferentes. Ao todo, desfilarão mais de 100 grupos durante todo o Carnaval. A festa, que ocorre há mais de 100 anos, é feita principalmente por trabalhadores rurais, cortadores de cana.
Durante o encontro, os diversos grupos de maracatus desfilam pelas ruas da cidade com seus Caboclos de Lança vestidos com roupas coloridas, lanças, perucas e chocalhos. A procissão impressiona pela exuberância das roupas e do clima solene da festa. Como a tradição é passada de pai para filho, é comum ver idosos e crianças brincando juntos. Nesta segunda-feira, entre as dezenas de grupos que participaram, se destacaram o Cambinda Brasileira, o mais antigo em atividade, fundado em 1898, e o Coração Nazareno, formado só por mulheres.
A tradição é levada tão a sério, que os caboclos começam a preparar suas fantasias com seis meses de antecedência e tudo é feito a mão pelo próprio folião. Eduardo Andrade Silva, 20 anos, que brinca há sete anos gastou R$ 2 mil em sua roupa. "Eu mesmo fiz tudo e demorei três meses. Ao todo, ela tem 7800 lantejoulas que formam o desenho de um leão", explicou. "Vale a pena porque o importante é a brincadeira". A maioria dos Caboclos de Lança desfilam com um cravo na boca, mas nenhum deles pode revelar o que ele significa. "Não falo para ninguém. Nenhuma mulher pode encostar nele", concluiu Eduardo.
O cortador de cana Romildo Vicente, 53, desfila há 34 anos ininterruptos. "Esse material não é barato não", disse se referindo a sua roupa. "Mas se a gente não brincar, adoecemos", completou. Seu filho, Romildo Junior, tem 7 anos e desfila desde os 5. A filha Vitória, de 15 anos, também participa. "Faço questão da presença deles porque a tradição não pode se perder".
O prefeito de Nazaré da Mata, Egrinaldo Floriano Coutinho, disse ao UOL que o maracatu no município significa muito mais do que o carnaval. "É a nossa história e a nossa cultura. Significa o homem do campo, o trabalhador rural que muitas vezes fica sem comer para guardar dinheiro e produzir a sua fantasia", disse. De acordo com o prefeito, a média de cada roupa é de R$ 3 mil.
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