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Rio de Janeiro

Reciclagem, remendo, doação: como as escolas estão driblando a crise no Rio

20/02/2017 16h52

Reciclagem de materiais, remendos, doações. O Carnaval do Rio de Janeiro precisa de muita criatividade para manter o brilho de seus desfiles, apesar da crise que cortou muitos recursos da maior festa popular do país.

"Aqui na Portela é austeridade absoluta", afirma Luiz Carlos Magalhães, presidente da escola de samba, que é a maior vencedora do Carnaval carioca.

Qualquer detalhe errado pode custar caro e isso obriga os carnavalescos a se aperfeiçoarem na arte do improviso.

"É uma administração do dia a dia, isso é muito ruim, porque não dá para planejar nada. Temos que ver quanto deu o resultado da Feijoada para poder adiantar a compra de um material, uma pluma", explica Magalhães.

Cada escola do Grupo Especial recebe seis milhões de reais da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a Liesa, procedentes dos subsídios da Prefeitura e dos direitos de transmissão.

Algumas escolas recebem doações de bicheiros, mas a maioria depende de patrocinadores que se mostram cada vez mais difíceis de motivar.

"Nosso patrocínio principal não veio esse ano e tivemos que dar uma cambalhota para poder realizar o projeto", afirma o presidente da Portela.

A Grande Rio começou a distribuir almoços gratuitos para centenas de pessoas que participam dos preparativos, porque já não pode pagar nem o salário das costureiras.

Carnaval alternativo

As dificuldades são ainda maiores para as escolas do Grupo de Acesso, com subsídios três vezes menores e menos atraentes para os patrocinadores.

"Temos menos meios e os materiais são mais caros. Tivemos que inovar e imaginar um Carnaval mais alternativo, que possibilitasse usar materiais de custo mais baixo", explica Jorge Silveira, carnavalesco da Viradouro, campeã em 1997.

"No almoxarifado da escola encontrei todo tipo de material" para suprir o que faltava, orgulha-se, apoiado em um grande carro alegórico em forma de bolo.

Seu barracão é menos moderno e amplo que os do Grupo Especial, mas Jorge Silveira sabe que suas condições de trabalho são muito melhores que dos outros grupos.

As escolas dos Grupos B, C e D não desfilam no Sambódromo, mas na Estrada Intendente Magalhães, na zona norte da cidade, e não se beneficiam dos preciosos recursos das transmissões televisivas.

"É meu quinto carnaval e esse ano com certeza é o pior de todos. Tudo foi mais difícil do que em todos os outros anos", lamenta Tatiana Santos, presidente da Escola de Samba Arranco, do Grupo C.

"Recebemos apenas 70% da subvenção, os outros 30% só depois do Carnaval", afirma esta mulher de 37 anos, sentada em uma cadeira de plástico no barracão da escola empoeirado e com o teto destruído.

Várias escolas menores decidiram não desfilar este ano, mas Tatiana Santos optou por um desfile que homenageia o Salgueiro, que se sentiu lisonjeada e doou fantasias e um carro alegórico.

Fábio Augusto, presidente da Tupy de Brás de Pina, do grupo D, também apelou para a solidariedade das escolas mais ricas.

"Vivemos de doação. As escolas que estão na Sapucaí doam material para gente. Coisa que já usaram, ou não vou usar e fica parado no barracão deles", conta.