"Negras ou brancas, o Ilú Obá de Min é para todas", diz fundadora do bloco
Vestidas em homenagem a Oxóssi --o orixá da caça e das florestas–, cerca de 350 mulheres desfilaram na noite desta sexta-feira (24) pelas ruas do centro de São Paulo na 12ª edição do Bloco Ilú Obá de Min.
Mesmo sob forte chuva, negras e brancas de posse das suas alfaias, agogôs, xequerês e outros instrumentos de percussão saíram em cortejo por volta das 20h da Praça da República em direção à antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu. A PM não informou à reportagem uma estimativa de público.
Diante da polêmica sobre a temática da apropriação de mulheres brancas sobre elementos da cultura negra, ao ser questionada pelo UOL, Beth Belisário, percussionista, fundadora do Ilú Obá De Min, afirmou que o Ilú é para todas.
“Dentro do Ilú, a primeira fala é sempre das mulheres negras. Elas que têm a voz. Quando eu comecei a tocar na vida sofri muito preconceito, me empoderei. Esse empoderamento pode sim ser transmitido a todas as mulheres. Mas são as negras que têm voz de comando dentro do Ilú”, disse.
Carnaval de protesto
Nene Cintra, 53, que toca djembe, tem o tom de pele claro e para ela a beleza de participar do Ilú é o fato de ele ser aberto a todas. “Aqui é justamente isso que é bonito. Todas estamos lutando pela mesma coisa. A luta é por empoderamento. O Ilú tem essa valorização da cultura afro, mas é para todas. Estamos todas unidas nessa luta”, disse.
Quando uma das integrantes foi vítima de racismo logo após a apresentação do bloco no ano passado, todas tomaram as dores. “Ela foi num bar e o dono pensou que ela estava lá para roubar. A gente parou no final do cortejo e falou sobre o que tinha acontecido. Fazemos boicotes a lugares como esse. Ninguém mais foi lá”, contou Bárbara Nunes, 39, que toca agogô.
Para Beth Belisário, toda vez que o bloco faz um desfile, ele está indo para uma guerra. “E vamos para a guerra para ganhar. Nós fazemos um carnaval de protesto por todos os direitos que nos foram negados. São 12 anos, justamente o número de Xangô, o orixá da Justiça, homenageado neste ano. São 12 anos clamando por justiça para as mulheres negras”, disse.
Dos 12 anos do bloco, esse é o primeiro de Dalva Regina Santos, 34. Para ela, participar do Ilú tem sido “um grito de resistência”. “O bloco é um primeiro passo em reconhecimento a esses elementos da cultura afro que estão dentro da gente, que fazem parte da nossa história”, disse.
Chuva atrasa
Com mulheres na bateria e dançarinos vestidos como orixás, usando pernas de pau e soltando labaredas de fogo, o bloco passou pela avenida São Luiz, rua Xavier de Toledo, Praça Ramos e foi até o Largo do Paissandu. Terminou após as 23h, com mais de uma hora de atraso do combinado com a Prefeitura, com um verdadeiro ritual de agradecimento pelos 12 anos do Ilú Obá De Min.
O horário não preocupou a organização. “Acredito que a Prefeitura não vai penalizar o bloco. Já viramos tradição, somos patrimônio, fazemos parte da história do carnaval de rua de São Paulo. São 12 anos. É algo para se orgulhar [não se penalisar]”, disse.
Beth lembra bem como o carnaval de rua em São Paulo era há 12 anos. “Não tem comparação. O carnaval de rua ganhou uma força maior. As pessoas começaram a ficar aqui para curtir o Carnaval. Vários blocos surgiram, e o Obá é um deles”, disse.
Mas ela faz a ressalva: o que nós fazemos não é Carnaval. “Estamos aqui para reverenciar os nossos ancestrais, para lutar pela resistência negra. E fazer o desfile é apenas uma parte do que fazemos no Ilú”, concluiu.
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