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Recife e Olinda

Na Zona da Mata pernambucana, mulheres buscam espaço no maracatu rural

Em Nazaré da Mata, zona da mata de Pernambuco, a segunda-feira (27) é dia do encontro de maracatu rural - Mateus Araújo/UOL
Em Nazaré da Mata, zona da mata de Pernambuco, a segunda-feira (27) é dia do encontro de maracatu rural
Imagem: Mateus Araújo/UOL

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, em Recife

27/02/2017 14h44

Cristiane Mota é um símbolo de resistência, no Carnaval de Pernambuco. Ela é a única mulher mestra de um maracatu rural, folguedo majoritariamente masculino, tradicional dá zona da mata do estado, uma região marcada pelo cultivo de cana de açúcar.

Mestra é a função ocupada por alguém que canta as loas do grupo --músicas rimadas e improvisadas. E nessa segunda-feira (27), Cristiane foi uma das atrações do encontro de maracatu rural, que acontece anualmente em Nazaré da Mata e reúne cerca de 60 agremiações do interior pernambucano

À frente do maracatu Coração Nazareno, formado unicamente por mulheres, Cristiane conta que resistir ao machismo não é tarefa fácil e requer a força feminina. "Mesmo com 13 anos de existência, ainda passamos por uma tarefa de resistir. Tem grupos que ainda não respeitam a gente, porque somos um grupo 100% de mulheres", conta a mestra. "Mas a gente resiste e quer mostrar a força dá mulher."

Esse é o primeiro Carnaval de Cristiane como mestra do Coração Nazareno. Professora da rede pública de ensino, ela se aproximou de maracatu pela paixão por poesia popular. "Meu pai fazia encontros de poesia em casa, sempre gostei de poesia, e estudei as modalidades de maracatu para musicar minhas loas", lembra.

O Coração Nazareno é formado por 72 mulheres, de diferentes idades. Segundo a antropóloga Tamar Thales, o grupo representa uma quebra de padrões, por desconstruir paradigmas dá tradição regida pelo masculino. "Antes delas, mulheres não usavam a gola (manto de lantejoula) do caboclo de lança nem podiam tocar na cabeça (chapéu com fitas brilhosas). Mulher era tida como impura", pontua a pesquisadora, autora de um livro sobre a mulher no maracatu rural.

Hoje integrante do grupo, Tamar também acrescentar a importância do Coração Nazareno nas políticas de igualdade de gênero na região. As músicas que elas cantam falam sobre violência contra mulher, por exemplo, e o grupo está ligado a uma associação feminina.