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Recife e Olinda

Em Olinda, a quarta-feira é o dia da saudade

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, em Olinda

01/03/2017 17h46

Quarta-feira de cinzas é dia de saudade, em Olinda. Assim define o produtor Carlota Pereira, um dos incansáveis foliões pernambucanos que fizeram do dia da ressaca uma extensão da folia.

"Existe uma sensação de saudade da alegria dos dias que passaram. Tudo desperta esse sentimento: o cheiro que fica, o banzo que dá na gente. É um saudosismo, uma melancolia", conta Carlota, que aproveitou a tarde da quarta para brincar no Bloco do Case, uma das agremiações que desfilaram na cidade durante a tarde, junto com o encontro de Bois e do Bacalhau do Batata. "As pessoas vêm hoje extravasar a tristeza."

O estudante de arquitetura Pedro Rodolpho, que mora em Brasília, decidiu visitar o Recife e Olinda pela primeira vez durante o Carnaval. Instigado pelos quatro dias de festa, que ele diz serem inesquecíveis, o rapaz também esticou a folia na quarta-feira. "É uma sensação triste de ver o que passou", brinca.

"Já tenho saudade dos blocos, dos batuques, da energia dos blocos. Essa coisa que a gente não consegue explicar", lembra Rodolpho, que já tem escolhidos seus blocos preferidos: "o Eu Acho É Pouco e o Vaca Profana."

Olinda - Tiago Calazans - Tiago Calazans
Arquiteta Isadora Freire (de amarelo) e parte do grupo de amigos da casa Comigo É Assim
Imagem: Tiago Calazans
Volta pra casa

Enquanto uns ainda acompanhavam blocos, outros arrumavam as malas e desmontavam as mudanças provisórias, nas casas alugadas por grupos de amigos para passarem o Carnaval.

Na casa Comigo É Assim --na rua 27 de Janeiro, uma dos principais corredores de agremiações olindeses-- o dia era de despedida e cansaço. Nela ficaram hospedada 60 pessoas, nestes quatro dias, que resolveram se juntar para evitar o deslocamento entre Olinda e Recife, no Carnaval. "Decidimos criar a casa há sete anos, porque ninguém aguentava mais o vai e volta. É mais confortável para a gente ficar aqui", explica a arquiteta Isadora Freire, que junto com outros amigos passou o dia reorganizando a casa para ser devolvidas aos donos.

Em frente à Comigo É Assim, a Casa do Craudi também estava em clima de desmontagem, após cinco dias reunindo um grupo de 45 pessoas. No caso deles, a ideia de se juntar numa mesma casa durante o Carnaval surgiu há seis anos, pelo mesmo motivo dos vizinhos. "Era muito complicada essa ida para o Recife depois de um dia todo em Olinda. Terminava tendo que voltar cedo, até por medo", conta a publicitária Izabela Hinrichsen.

Balanço do Recife

A prefeitura do Recife divulgou nesta quarta-feira um balanço do Carnaval 2017. Segundo os dados, 1,3 milhão de pessoas participou da festa na capital --200 mil a menos, comparado com o ano passado.

Para a secretária de turismo da cidade, Ana Paula Vilaça, embora a queda no número de público, os dados são positivos. "O Carnaval do Recife superou todas as expectativas, mesmo sendo um ano de crise e estarmos passando por problemas de segurança", afirma.

No turismo, os hotéis recifenses tiveram 97% de ocupação, conforme registro da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira. E, ainda segundo a prefeitura, 99% dos turistas entrevistados afirmaram que querem voltar à festa no próximo ano. A maioria dos visitantes do Brasil vieram do Rio de Janeiro e São Paulo; já do exterior, foram os Argentinos.