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Recife e Olinda

Sem inovar na programação oficial, espontaneidade marca Carnaval de PE

Marlon Costa/Futurapress/Estadão Conteúdo
Imagem: Marlon Costa/Futurapress/Estadão Conteúdo

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, no Recife

02/03/2017 14h10

Mais uma vez, a espontaneidade marcou o Carnaval pernambucano, provando que a grande riqueza da festa popular é o não oficial. Comparada a anos anteriores, a programação não inovou. Recife havia criado a fama de reunir, além dos blocos, grandes shows de nomes importantes da MPB.

Em 2017, a curadoria repetiu atrações ou investiu em artistas que simplesmente não combinaram com a euforia da festa. Os polos descentralizados, o grande diferencial desta estrutura carnavalesca criada há mais de uma década pela prefeitura, vai se mostrando cada vez mais enfraquecida no atual governo de Geraldo Julio (PSB). 

Coube, então, aos blocos --tradicionais ou improvisados-- fazer a alegria dos foliões. 

Por outro lado, a homenagem ao percussionista Naná Vasconcelos, morto no ano passado, foi o grande trunfo na noite de abertura -- com mais destaque do que a reverência aos próprios homenageados do Carnaval deste ano (o cantor Almir Rouche e o caboclinho Carijós).
 
Antes do início da folia, a segurança era o principal temor dos recifenses. Segundo uma pesquisa do Instituto Uninassau, 44% dos moradores desistiram de participar da festa por medo da violência. A crise entre governo e Polícia Militar tem assustado a cidade, às vésperas do Carnaval, assaltantes roubaram R$ 60 milhões de uma empresa de transporte de dinheiro, em uma assustadora ação com trocas de tiros com policiais.
 
A consequência foi o esvaziamento das ruas, visível no Bairro do Recife e até mesmo no Galo da Madrugada. A tímida decoração, boa parte dela escura, deixou a festa com um ar de abandono -- incluindo uma interdição para reforma da rua Rio Branco, principal corredor da festa no centro histórico, que não foi nada convidativa, e o Galo Gigante, que ficou ofuscado. A sensação era de um constante fim de festa. 
 
"Se empurrar, o Temer cai"
 
As sátiras marcaram, como praxe, o Carnaval. Fantasias com críticas ao presidente Michel Temer e contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff foram recorrentes entre os foliões. Nas ladeiras de Olinda, os gritos de "Fora Temer" e até uma paródia de marchinha, com o refrão com o refrão "ai, ai, ai, se empurrar, o Temer cai" foram hits.
 
Já no Recife, no dia do Galo da Madrugada, o bloco Empatando Sua Vista teve estandarte e alegorias apreendidas pela PM, antes do desfile. O grupo faz críticas ao prefeito da cidade e ao governador do Estado, Paulo Câmara, com relação à especulação imobiliária em Pernambuco. A ação ainda não teve o motivo explicado pelas autoridades. No entanto, o grupo conseguiu recuperar o material e desfilar na segunda-feira de Carnaval. 
 
Gospel
 
Em Olinda, o Carnaval superou as expectativas dos foliões. No primeiro ano de gestão do novo prefeito da cidade, professor Lupércio (SD), a possibilidade de interferências religiosas (o prefeito é evangélico e tentou incluir na festa um polo gospel) não aconteceu, e a folia manteve ser caráter profano e, ao mesmo tempo, sincrético.