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Primeira passista trans relata dificuldade para ser aceita na Sapucaí

Sócia de um salão de cabeleireiro, Marcelly vai desfilar pela primeira vez como passista de uma escola do Grupo Especial do Rio - Divulgação
Sócia de um salão de cabeleireiro, Marcelly vai desfilar pela primeira vez como passista de uma escola do Grupo Especial do Rio Imagem: Divulgação

Ana Cora Lima

Do UOL, no Rio

17/01/2018 04h00

Abram alas que Marcelly Morena quer passar. Do alto do salto da sua plataforma de 15cm, ela é a primeira passista transexual a desfilar na Marquês da Sapucaí pela Grande Rio, escola do Grupo Especial da folia carioca. Além de quebrar mais um tabu, Marcelly, 31, estará realizando um sonho de adolescência.

“Sempre gostei de Carnaval, sempre frequentei a quadra da Grande Rio porque eu sou nasci e cresci em Caxias. Nunca quis ser destaque de carro, nem aquelas musas que desfilam à frente de uma ala. Queria ser passista mesmo e corri atrás. Levei anos, mas consegui”, conta ela.

Marcelly lembra que as pessoas achavam que outra candidata era a passista transexual do concurso - Reprodução/Instagram/@marcellymorena - Reprodução/Instagram/@marcellymorena
Marcelly lembra que as pessoas achavam que outra candidata era a passista transexual do concurso
Imagem: Reprodução/Instagram/@marcellymorena
Cinco vezes princesa da corte momesca de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ela resolveu tentar a sorte na ala das passistas da Vermelho e Branco ano passado. Mesmo com a promessa de ser apresentada à direção da escola, Marcelly chegou a participar de um concurso de passista e com três ensaios acabou entrando definitivamente na ala. A empresária – é sócia de uma salão de cabeleireiro no Recreio dos Bandeirantes – ri ao lembrar da confusão que criou ao não revelar a sua identidade de cara.

“No segundo ensaio, todo mundo já sabia que tinha uma transexual no concurso. Achavam que era uma moça grandona que sambava ao meu lado, mas não eu. Se não falo que sou transexual, as pessoas não desconfiam”, diverte-se Marcelly, que desde muito cedo não se reconhecia como menino. "Aos 10 anos, o meu pai me perguntou se eu era gay. Eu, com medo, neguei. Sabia que tinha outro gênero, mas fui levando, levando. Com 16 anos, armei com uma amiga para ser minha namorada diante da família até que depois de um tempo, eu abri o jogo."

Marcelly foi expulsa de casa e começou a transição hormonal. Hoje, ela malha bastante para manter o corpo sarado. Com 1.73m de altura e 65 quilos, ela se orgulha de cravar na fita métrica 113 cm de quadril e 67 cm de coxa. “Não sou de ficar preocupada com medidas, mas essas duas partes eu faço questão de medir. O importante é usar roupa M e ter a cintura fina”, diz ela, que é casada há três anos com um rapaz 11 anos mais novo. "Ele me apoia em tudo. É um pouco ciumento porque eu sou muito cantada. Graças a Deus", admite, gargalhando.

Ainda sem saber nada sobre a fantasia, Marcelly conta os dias para o desfile. A Grande Rio é a quinta escola a atravessar a Marques de Sapucaí no domingo (11) com o enredo "Vai para o trono ou não vai? ", uma homenagem a Abelardo Barbosa, o Chacrinha. "Eu estou ansiosa e acima de tudo feliz. Fui muito bem recebida na escola. Todo mundo orgulhoso da Grande Rio poder quebrar um tabu. Por incrível que pareça ainda existe preconceito contra transexuais. Blocos e escolas de outros grupos aceitam, mas desfilar em escolas grandes é muito difícil. Eu espero estar abrindo as portas para mulheres como eu", finaliza.