"Nunca existiu autorização para o Carnaval", diz comentarista Milton Cunha
São 30 anos de Carnaval, mais da metade deles trabalhando como carnavalesco de escolas como Beija-Flor, União da Ilha, Unidos da Tijuca, São Clemente, Viradouro e Porto da Pedra, no Rio, e na Leandro de Itaquera, em São Paulo. Mas, já há cinco anos, Milton Cunha virou comentarista, aquela especialista que você respeita nas transmissões da Globo pela experiência e também pela alegria. Ele sabe que é referência na folia carioca e credita esse respeito a um dos seus principais traços da personalidade.
“Sou muito verdadeiro. Não jogo para a plateia nem sou simpático à frente das câmeras. Estou há 30 anos no Carnaval e o povo já me vê esse tempo todo, já me conhece de ficar pulando fantasiado nas quadras. Quando eu chego na televisão, as pessoas sabem que é aquele mesmo Milton de sempre e daí que vem a empatia e o respeito” diz o psicólogo de formação, que está entrando no seu segundo Pós-Doutorado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro com tema relacionado ao Carnaval.
Aos 55 anos, Milton, que também é cenógrafo, desde junho acompanha os trabalhos das escolas de samba para o desfile na Sapucaí e esse “acompanhar” significa participar de todas as etapas dos preparativos das agremiações. “Leio as sinopses dos enredos, vou as finais dos sambas-enredo, vejo as fantasias, visito os barracões... São oito meses que eu procuro entender e me apropriar para poder ter total conhecimento do que falar e apresentar nas transmissões da TV. Isso tudo me deixa pronto e na hora H é só não deixar o nervosismo do ao vivo tirar a espontaneidade e, claro, levar tudo com muito humor”, ensina.
Como tem visitado os barracões, Milton não se acanha em revelar suas já preferidas ao título de 2018 na Sapucaí. “Este ano a novidade é o casamento dos carnavalescos Renato e Márcia Lage com a Grande Rio. Uma escola que sempre teve dinheiro, sempre bateu na trave e agora tem uma super dupla consagrada à frente dos trabalhos. O enredo é ótimo, falando de Chacrinha, e o samba é chiclete. O barracão está lindo, a comissão de frente belíssima, um bom casal de porta-bandeira e mestre-sala, enfim, eles têm todos os quesitos. Gostei muito também do Salgueiro e a Mangueira. São as minhas três favoritas", aponta.
Sobre o que ele espera do Carnaval de 2018, Milton acredita que a emoção vai superar a falta de dinheiro por conta da crise financeira. “Vamos ter uma festa da superação e também do embate porque o espírito rebelde dos foliões está sendo colocado em prova com tanto ‘você não pode isso’,’ não pode falar disso’, ‘não samba ali’, ‘ não samba lá ‘ e aí a resposta é tipo ‘me aguarde porque é aqui que eu vou desfilar’. Vai ser o Carnaval da rebeldia também”, explica o comentarista que logo completa com o que mais tem ouvido nas ruas.
“O que eu mais escuto é que ‘o Carnaval é do povo brasileiro, o Carnaval não é de prefeito, não é de governador, não é de presidente nem de político nenhum e então a gente sempre fez e vai continuar fazendo. Nunca existiu autorização. O Carnaval nunca precisou que passem mão na cabeça e é por aí”.
Paraense, ele jura que não sente saudades do tempo em que era carnavalesco. “Fechei esse ciclo porque eu fiz o que tinha que fazer, aprendi o que tinha que aprender, mas ainda faço muito Carnaval internacional fora de época como Londres, Toronto e na Suíça. Aí, eu faço muitas alegorias. O meu tempo de carnavalesco usei para aprender sobre o barracão, mas o que eu sempre quis foi chegar à televisão”, confessa.
"Trabalho muito, mas tenho que equacionar os meus trabalhos com o de folião. Tenho que trabalhar se não eu não pago o meu condomínio [risos]. Pulo, pulo, danço, danço e tem que trabalhar, tem que equacionar. Isso é Carnaval", finaliza.
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