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Carnaval, educação e tecnologia: Diretora da Rosas faz mistura dar certo

Karla Ferreira trabalha para aliar educação, tecnologia e Carnaval - Arquivo pessoal/Divulgação
Karla Ferreira trabalha para aliar educação, tecnologia e Carnaval Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

Soraia Gama

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/02/2018 04h00

Há seis anos Karla Priscilla Ferreira pisou pela primeira vez na Rosas de Ouro e nunca mais arredou o pé de lá. Convidada pelo professor de ritmos da academia onde frequentava na época, hoje ela é líder de ala coreografada na escola da Freguesia do Ó.

Educadora na área de tecnologia educacional, Karla trabalha em uma escola católica que faz parte da Rede de Educação Missionária Servas do Espírito Santo. Mesmo sendo dois temas aparentemente tão contrários, ela garante que as freiras a apoiam.

"É um colégio confessional católico, mas elas [as freiras] não usam hábito. As mais antigas podem ter um certo preconceito, mas as mais novas não têm. Elas curtem, perguntam como é, têm interesse e curiosidade sobre a Rosas", conta a profissional, que trabalha no Colégio Espírito Santo há 17 anos: "A unidade do Tatuapé é a mais novinha e está completando 80 anos. A mais antiga, em Juíz de Fora (MG), completou 115".

Karla Ferreira - A ala é formada pela comunidade da Rosas de Ouro - Arquivo pessoal/Divulgação - Arquivo pessoal/Divulgação
A ala é formada por integrantes da comunidade da Rosas de Ouro
Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

Mesmo em um local onde a tradição educacional resiste há três gerações, Karla consegue contagiar os professores com a paixão que uma escola de samba normalmente desperta na maioria dos que tem um contato mais próximo com o Carnaval. "Tem quatro professores desfilando comigo. Um vem, depois traz o amigo, o marido... E o grupo só aumenta”, comemora a educadora, que sempre esteve envolvida nos projetos teatrais da escola – hoje ela não leciona e tem um cargo de coordenadora. "Elas [as freiras] chegam e perguntam se aqui [na Rosas] não teria, por exemplo, uma cabeça de dragão, asa de anjo para uma feira cultural. Por isso acho que elas gostam também. Pego emprestado e depois devolvo tudo", conta Karla, confirmando essa cumplicidade.

Karla também conta que a Rosas levou as crianças da ala inclusiva da escola para uma apresentação no Colégio Espírito Santo: "As [crianças] capoeiristas da AACD foram à abertura de um Campeonato de Futsal. Agora os alunos de lá querem retribuir fazendo algo também. Ainda não sabemos exatamente o quê."

Dança da Sereia na Rosas de Ouro 

Ensaiar 80 mulheres e 40 homens exige dedicação de ambos os lados. O trabalho começou em outubro de 2017, sempre aos domingos e quintas-feiras à noite, durante duas horas e meia, em média. "É uma ala de comunidade, com pessoas que frequentam a Rosas. Ela tem a coreografia porque o grupo pede. Eles querem!", diz a professora, que promete muita saia girando na Avenida. "Vamos representar a região norte e as meninas vão dançar o carimbó", antecipa ela, fazendo referência ao personagem de Isis Valverde na novela "A Força do Querer". Neste ano, a Rosas de Ouro desfila com o enredo "Pelas estradas da vida, sonhos e aventuras de um herói brasileiro" – uma homenagem aos caminhoneiros que viajam pelo Brasil afora.

Rosas de Ouro - Carol Barranqueiro, Karla Priscilla, Adriana Regina e Cinthia Milet - Arquivo pessoal/Divulgação - Arquivo pessoal/Divulgação
Carol Barranqueiro, Karla Priscilla, Adriana Regina e Cinthia Milet na quadra da Rosas de Ouro
Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

No quarteto que cuida da ala Expressão Roseira não tem nenhuma profissional da dança. "Nós éramos do Corpo e Expressão Roseira, corpo coreográfico montado por Taiana Freitas [filha de Jorge Freitas, carnavalesco da Rosas até 2015]. Quando ela assumiu a Comissão de Frente, em 2015, eu fui convidada para ser diretora da ala", relembra. Karla. Depois que ela [Taiana] saiu da escola, mudamos o nome para Expressão Roseira.

Tamanha dedicação não estava nos planos iniciais, mas aconteceu. “Moro sozinha, então aqui foi minha válvula de escape, meu lazer. Tenho família [no interior], mas aqui encontrei pessoas que são amigos/irmãos. É minha segunda família. Fora do Carnaval a gente sempre se encontra. Aqui não vejo o tempo passar", diz ela.

Projeto escolhido pelo Google

Entre as boas novas, Karla  comemora ter um projeto selecionado pelo Google. "Foram trinta e seis pessoas escolhidas no Brasil todo e eu fui uma delas. Nesse projeto de inovação [Innovator] o professor tem o compromisso de transformar a educação no Brasil com o uso de tecnologia", conta a mestra, que apresentou uma proposta de letramento digital para identificar o nível do professor em relação ao uso da tecnologia e incentivá-lo a melhorar o cenário.

"Hoje meu projeto está embrionário. Tenho um ano para desenvolvê-lo com a mentoria de pessoas de dentro do Google." Só não há suporte financeiro e Karla explica o porquê: “Toda a parte educacional do Google é 0800. Se uma escola quiser ser parceira, ter o G Suite [painel de ferramentas], ela pode. Só precisa ter registro no MEC. É grátis para educação. E ele tem o diferencial de ser ilimitado e não ter propaganda. A conta do professor e do aluno são auditadas. Tudo totalmente seguro”.

Karla Ferreira - professora e diretora da Rosas de Ouro - Arquivo pessoal/Divulgação - Arquivo pessoal/Divulgação
Projeto de Karla que une educação e tecnologia foi aprovado pelo Google
Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

Em posse dos certificados de nível 1 e 2 no "Google for education" e com um projeto no Innovator, Karla espera colher bons frutos em um futuro não tão distante: “No Brasil são cem educadores transformadores. As escolas nos chamam para fazer a formação de outros e trabalhar com eles. Daí pode vir a evolução financeira”. Ela também avisa que todo professor engajado pode ter os certificados no Educenter. "É ir fazendo os testes [tudo on-line] para acompanhar sua preparação e depois fazer a prova."

Um grande sonho agora seria poder usar os novos conhecimentos em aulas para os mais carentes. ”Mas não é só chegar. É preciso de computador. E de vários. De que forma vamos ter isso ainda eu não sei", diz ela, que trabalha com duas realidades bem distintas: os alunos de uma escola particular de ponta e pessoas de comunidades carentes que fazem parte da escola. "A ideia é trazer para o Rosas como projeto social. Aqui essa parte social é muito forte. E trabalhar não só com crianças, mas com a comunidade como um todo.”

Por enquanto Karla planta sementinhas com os educadores que conhece. "Quem está na minha ala eu já convidei para fazer parte do Grupo de Educadores Google. Vou ministrar um curso por mês até dezembro, no Tatuapé. E tem uma amiga fazendo isso também na Freguesia do Ó. Na Rosas aprendi a lidar com as diferenças e a delegar. Antes era 'deixa que eu faço'. Agora sei que é preciso distribuir tarefas, senão o negócio não sai. E também sei hoje que juntos somos mais fortes."