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Eles não querem você: blocos "secretos" driblam novos foliões no Rio

Invasão do aeroporto Santos Dumont, em 2015 - Reprodução/Instagram
Invasão do aeroporto Santos Dumont, em 2015 Imagem: Reprodução/Instagram

Carolina Farias

Colaboração para o UOL, no Rio

02/02/2018 04h00

Nem tudo no Carnaval de rua do Rio de Janeiro é para todos. Um dos segredos mais bem guardados da festa é justamente um bloco que não revela lugar, data ou horário de saída, mas ainda assim é um dos cortejos mais aguardados pelos amantes da folia alternativa e descolada. Chamado de “bloco secreto”, o cortejo não faz parte do calendário oficial do Carnaval, mas sua saída todos os anos é (quase) certa.
Sem perfis em redes sociais nem site, para saber de onde o bloco sai é preciso conhecer as pessoas certas. A única certeza sobre o cortejo é que seus membros escolhem o centro para desfilar.

A região central do Rio também é palco de outros blocos com o mesmo perfil e que também preferem evitar multidões e driblar a prefeitura, que tenta reprimir blocos que não cumprem as normas impostas para o Carnaval de rua. Mas a garantia de pouca gente nesses blocos já não é certa – o “secreto” já chegou a reunir 10 mil pessoas.

 

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Entre os feitos do “bloco secreto” foi estrear a “invasão” ao Aeroporto Santos Dumont, que fica na região central da cidade, em 2012. De lá para Carnavais posteriores outros blocos, todos não-oficiais, já desfilaram pelo saguão e escadarias do aeroporto.

A história do “bloco secreto” começou em 2005 quando um grupo de amigos que cursavam cinema e comunicação na UFF (Unidade Federal Fluminense), em Niterói, se reuniu para atravessar a baía de Guanabara e curtir o Carnaval pelas ruas do Rio. Se chamavam de Se Melhorar Afunda e durou quatro Carnavais com esse nome e saída, até ficar grande demais e os amigos mudarem a “estratégia” para curtirem o Carnaval ainda em grupo.

A cada ano o bloco começou a sair com nomes diferentes como Epa Rei, O Centrão Vai Virar Mar, Boa Noite Cinderela, Oh Ménage, Saravaço, Baianada e, no ano passado, como crítica ao prefeito Marcelo Crivella, foi chamado de Sincreto.

O nome “secreto” veio de uma reportagem, como explicou ao UOL um integrante do grupo que preferiu não falar oficialmente pelo bloco. A ideia do grupo, segundo ele, não é ser exclusivista, mas tentar evitar uma multidão, onde a diversão não é garantida para todos.

“Tem que ir na vibe. Não temos Fabebook, canal nenhum, nada para nos solidificar. Somos um grupo de amigos, fazemos um carnaval para a gente, mas todos estão convidados. É uma brincadeira, como um churrasco de amigos”, disse o integrante.

Bagunça organizada

Se engana quem pensa que o grupo sai sem organização. O trajeto para “despistar” os foliões é bem pensado e tem até o pessoal do “deixa disso”, que entrou em ação quando o bloco ocupou o Santos Dumont.

O integrante explicou que a entrada no aeroporto foi espontânea, não planejada pelo grupo. O cortejo passava pelo terminal quando alguns entraram para usarem o banheiro. Aos poucos outros foram entrando, mas a banda ficou de fora para não terem problemas com a segurança local. O bloco seguiu seu trajeto e aí voltou para perto do aeroporto, já com um número bem menor de foliões e aí ocupou o terminal.

“Temos uma ‘’tropa de choque’ que fala com os seguranças. A gente explica que se não reprimir, todos saem de boa. Temos uma contenção que dá o toque para irmos embora. Tem um limite, ver a hora que tem que sair. Foi assim também no Museu do Amanhã”, contou o integrante sobre a invasão dos foliões aos espelhos d’água do museu que fica na Praça Mauá, no Carnaval do ano passado.

 

Menos é mais

Seguindo a mesma ideia de que menos gente é garantia de mais curtição, outros blocos também não revelam hora e local de saída. Somente o dia é garantido – no caso do “secreto”, nem isso.

No sábado que antecede o Carnaval um dos mais aguardados é o Pérola da Guanabara, que desfila na pequena ilha de Paquetá, que fica na baía. Por conta do volume de foliões o bloco mudou seu esquema para o cortejo neste ano e não vai mais começar tocando nas barcas e desfilar pela ilha. Vai se reunir às 12h na praia da Moreninha e fará um baile às 16h no coreto da praça de São Roque.

Na noite da quinta-feira que antecede o Carnaval já virou tradição a saída do Minha Luz É de Led, blocos extravagante com foliões com adereços e fantasias de todo tipo de luz.

O Minha Luz ilumina as ruas do centro carioca há quatro anos. Júlia Jacobina, integrante do bloco, explica que os organizadores pararam de divulgar o horário e local com antecedência por conta do volume de pessoas que o bloco já conquistou.

“Temos duas bicicletas com som, a potência não é grande. Não queremos um trio-elétrico. Preferimos continuar pequenos porque queremos continuar com nosso cortejo calmo e parar em um lugar onde ficamos até amanhecer”, explicou a integrante.

A dificuldade em descobrir onde e que horas o bloco sai inibe alguns foliões, como afirmou Júlia.

“Tem gente que acha absurda (a não divulgação) e acaba desistindo”, conta.

A proposta do bloco é reunir quem gosta mais de música eletrônica, remixada e até sucessos antigos de outros Carnavais. Pensando no bem-estar dos foliões, neste ano o bloco, mesmo não sendo oficial, terá uma estrutura para quem o seguir até sua já tradicional parada.

“Durante o ano nós fazemos festas e cobramos entrada para esses custos. Vai ter banheiro e segurança este ano”, assegurou Júlia, que também lembrou. “Vai no bloco quem quiser, mas lembramos que homofóbicos, racistas e misóginos não serão bem-vindos. Estamos voltados para a diversão com todos. Quem não consegue isso nem deve ir”, disse.

A diversidade de “blocos secretos” aumenta a cada ano e já existe até um coletivo desses grupos. O Ocupa Carnaval reúne há cinco anos integrantes e músicos dos “secretos”. A cada ano, criam marchinhas com críticas políticas e distribuem para os foliões que frequentam esses blocos não-oficiais. Eles também têm seu cortejo próprio que também sai na quinta antes do Carnaval. Porém com local e horário divulgados: às 17h, na Cinelândia. Para quem quer conhecer mais sobre blocos alternativos e até fazer amizades que te levem aos “blocos secretos”, talvez seja uma boa opção para o pré-Carnaval.