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Maracatus e afoxés encerram o pré-Carnaval do Recife, nesta quinta (8)

Apresentação de Maracatu na abertura do Carnaval do Recife, em 2017 - Marcus Leoni/Folhapress
Apresentação de Maracatu na abertura do Carnaval do Recife, em 2017 Imagem: Marcus Leoni/Folhapress

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/02/2018 16h50

Antes marco da abertura do Carnaval do Recife, sob a batuta do percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016), o tradicional encontro de maracatus da cidade foi realocado na agenda oficial e será realizado nesta quinta (8). O evento, agora batizado de Tumaraca, reúne 700 batuqueiros, a partir das 17h, no Bairro do Recife, e segue em cortejo para a praça do Marco Zero, polo principal da festa da capital pernambucana.

No palco, 13 mestres de nações regem os músicos, com participações do coral feminino Voz Nagô, da cantora Isaar e dos cantores Guitinho de Xambá e Zé Brown.

“Esse encontro de maracatus é um espaço que foi construído ao longo de 17 anos, por muitos ativistas negros – especialmente Naná, que conseguiu construir um processo que fosse impensável antes: reunir as nações de maracatus e colocá-las lado a lado”, explica Guitinho. Historicamente, os grupos de maracatu viviam uma rixa entre si, uma vez que competem durante o Carnaval no concurso de agremiações.

Para Guitinho, o encontro das nações no dia da abertura oficial do Carnaval, na sexta-feira, se tornou simbólico e não devia ter sido realocado. “Há de se compreender que o Carnaval do Brasil é especialmente todo negro. E quando há uma movimentação dessa [de tirar a encontro da abertura oficial] dá a entender que é uma falta total de conhecimento por parte de gestores e até de brincantes.”

Polêmica

A decisão da mudança dividiu a opinião de pernambucanos. No início de janeiro, a viúva de Naná Vasconcelos, a empresária Patrícia Vasconcelos lamentou a transferência de data do evento que, segunda ela, era pra Naná era um momento de “compartir, agregar, deixar o outro ser visto como protagonista da festa”. “Todos se sentiam assim, não existia um, existia um todo. Um todo que agora deve se contentar com a quinta-feira para não sair de vez.”

Em entrevista à Folha, líderes dos grupos de maracatu afirmaram que as nações “foram obrigadas” a aceitar a transferência do evento para a quinta-feira, para não ficar fora do Carnaval. A prefeitura da cidade, porém, explicou que a decisão de transferência foi feita em reunião com a Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe). "Os ritmos irmãos, frevo e maracatu, embalarão o folião numa festa em que nenhuma manifestação cultural é mais importante que a outra”, escreveu em nota a Amanpe. “O Carnaval do Recife é diverso, é plural, é alegria e é união".

A ideia da prefeitura é deixa a sexta-feira no ritmo do frevo, que completa 111 anos neste dia 9.

De acordo com Guitinho da Xambá, os ensaios do Tumaraca foram acompanhados pela secretária de Cultura do Recife, Leda Alves. “Se mostraram atentos, atendem às exigências dos maracatus. E isso tem sido visível”, pondera.

Axé

Antes do encontro das 13 nações de maracatu, acontece no Bairro do Recife a primeira edição da cerimônia Ubuntu – Uma Consagração ao Povo Negro, que fará uma lavagem simbólica do Marco Zero com águas sagradas. O ato religioso tem participação de 24 grupo de afoxés que integram a programação oficial do Carnaval do Recife. O cortejo sai às 16h, da rua Mariz e Barros, Centro Histórico, entoando os cânticos para os orixás com a mensagem de paz e amor para o Carnaval.