Topo

Salvador

Ambulantes dormem na rua e tomam banho com água de gelo no Carnaval baiano

Família de Feira de Santana dorme em colchonetes na rua para proteger barraca em Salvador - Gilvan Marques / UOL
Família de Feira de Santana dorme em colchonetes na rua para proteger barraca em Salvador Imagem: Gilvan Marques / UOL

Gilvan Marques

Do UOL, em Salvador

10/02/2018 06h00

Ambulantes que armam as suas barracas, deitam nas calçadas e lá fixam a moradia por pelo menos 10 dias: esse é o cenário de centenas de profissionais autônomos --alguns vindos de longe--, para extrair uma renda extra durante o Carnaval de Salvador.

Eles podem ser encontrados facilmente, amontoados, nas principais vias da capital baiana, em barracas improvisadas ou qualquer lugar que sirva de descanso. Alguns dormem no local do trabalho para "proteger" o seu ponto de venda; outros, simplesmente porque vêm de fora, geralmente do interior do estado, e não têm onde dormir.

Dona Cássia, de 44 anos, é um exemplo disso: ela vem de Feira de Santana, a 108 km de distância de Salvador, e trouxe onze familiares e um vizinho para trabalhar ao seu lado. A família dividiu-se em três barracas montadas próximas à entrada do circuito Barra-Ondina.

Todos eles trabalham vendendo bebidas e churrascos, e depois que termina a folia abrem uma espécie de cortina e dormem ali mesmo, em pequenos colchões improvisados.

"A gente está trabalhando e passando por tudo isso para pagar material escolar de filho, aluguel e [conta de] água atrasada", conta ela, que dá expediente no principal palco do Carnaval de Salvador há quinze anos. "As vendas variam. Tem dia que faço até R$ 1 mil, mas tem dia que não faço nada".

Poucos metros à frente, uma outra família também fixou a sua residência temporária na rua: eles são do interior da Bahia, vieram em sete e já estão na cidade desde o dia 6 de fevereiro.

Ao UOL, Marina Silva citou os perrengues que ela, a sua mãe e os amigos passam ao longo do período.

"Estamos dormindo na rua há quatro dias, tomando banho com água de gelo [que derrete no isopor]. Para tomar banho aqui eles cobram R$ 5. Então, enchemos o balde com a água do gelo e assim nos viramos", diz. "O sacrifício vale a pena porque no fim das contas vamos tirar o nosso dinheiro suado, não estamos roubando ninguém".