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Blocos de rua

Quem são os "desconhecidos" que embalam 2 milhões de pessoas no Recife

Milhares lotam as ruas no centro de Recife para acompanhar o Galo da Madrugada, em 2017 - GUGA MATOS/JC IMAGEM/ESTADÃO CONTEÚDO
Milhares lotam as ruas no centro de Recife para acompanhar o Galo da Madrugada, em 2017 Imagem: GUGA MATOS/JC IMAGEM/ESTADÃO CONTEÚDO

Mateus Araújo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/02/2018 10h08

Eles ainda são desconhecidos de boa parte do Brasil, mas a cada fevereiro são as estrelas do Carnaval de rua pernambucano. Mais que isso: são os responsáveis por embalar dois milhões de pessoas no Galo da Madrugada, que desfila neste sábado (10), no Recife.

André Rio é um desses artistas. Há 27 anos comanda um trio elétrico no Galo. “Meus pais são do Bairro de São José [na região central da capital, onde nasceu o bloco] e os dois eram amigos de Enéas Freire, fundador do Galo. Meu pai foi compositor de vários blocos do bairro e foi compositor de um dos primeiros frevos do Galo. Todo Carnaval passávamos lá em São José”, lembra o cantor.

Foi a convite de Freire que André Rio passou a cantar no Galo da Madrugada. Ainda adolescente, conta. “Desde cedo aprendi a amar e reverenciar a majestade do frevo: o Galo.“

São em média quatro horas de show, no desfile do bloco que começa pontualmente às 9h (horário do Recife). “Tem que montar um repertório de no mínimo 60 frevos”, explica André Rio. No Galo, é proibido tocar qualquer tipo de música que não seja pernambucana.

“Eu divido o meu repertório em partes: os frevos clássicos que não podem faltar, os meus frevos e os frevos mais modernos de compositores amigos como Marron Brasileiro e Lula Queiroga.”

Homenageada deste ano no Carnaval do Recife, Nena Queiroga foi uma das primeiras mulheres a cantar no Galo. Há 24 anos, puxa um trio no bloco.

“Cantar no Galo é uma coisa muito interessante, porque tem algo de espiritual, uma conexão muito forte e inexplicável”, conta Nena. “Parece que a gente fica mais pernambucano”, brinca.

Cantar no Galo, comentam os artistas pernambucanos, é também um momento de troca com outros cantores. Dividir o trio com convidados de fora do estado “aumenta a força” da música local, diz Nena Queiroga. “Os artistas divulgam a nossa festa, a nossa música, e isso é muito importante. Eo público tem a chance de curtir também os que não veem sempre.”

Neste sábado, Nena recebe como convidados os cantores Monique Kessous, Ive, Mayra Andrade, Arthur Espíndola e Luiza Possi.

O Galo é uma vitrine internacional, como frisa Almir Rouche, um dos mais esperados cantores no desfile do bloco. Ele é o que está há mais tempo cantando na festa: 31 anos. Autor de um dos hinos da agremiação, “Galo, Eu te Amo”, ele comemora a força que tem o bloco na valorização do frevo, principal ritmo do Carnaval recifense.

“O dia do frevo é o dia do galo. Todo mundo que vem pra o bloco, quer ouvir frevo”, frisa.