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Blocos de rua

Local misterioso e sem hora pra acabar: bloco faz fama com ar "clandestino"

Boi Tolo começa a ocupar as ruas do centro do Rio. Bloco não é oficializado pela prefeitura para desfilar e, por isto, o trânsito não é fechado durante o trajeto - Lola Ferreira/UOL
Boi Tolo começa a ocupar as ruas do centro do Rio. Bloco não é oficializado pela prefeitura para desfilar e, por isto, o trânsito não é fechado durante o trajeto Imagem: Lola Ferreira/UOL

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

11/02/2018 10h59

Até as 20h do sábado, ninguém sabia para onde ir. As únicas informações certas sobre o desfile Boi Tolo deste ano eram dia e horário – às 8h do domingo de Carnaval. O bloco leva uma multidão para o centro do Rio ao som de marchinhas clássicas, mas os foliões que pretendem acompanhá-lo têm de ficar atentos às redes sociais ou a informações repassadas por amigos. Uma semana antes, em grupos de Whatsapp, começam a pipocar informações de locais de saída. Sim, mais de um. É porque a principal característica do Boi Tolo é se espalhar pela cidade. Este ano, entretanto, a confirmação foi feita na página oficial do Facebook somente 12 horas antes do início do cortejo: o bloco sairia da Igreja da Candelária, no centro da cidade do Rio.

Tradicionalmente, o bloco se divide em cinco bois coloridos: verde, azul, roxo, vermelho e amarelo. Cada boi é uma banda, e cada banda sai de um local diferente. Locais comuns são pontos turísticos do centro da cidade do Rio, como AquaRio, o aquário da cidade. Este ano, porém, o Boi Tolo inovou: três dos cinco “bois” se concentraram no mesmo local e dali seguiram rumos diferentes com o objetivo de ocupar as ruas do centro do Rio. Um quarto boi saiu de Niterói, na região metropolitana, e chegou à cidade numa barca que atravessou a Baía de Guanabara. Já o quinto boi, dedicado às crianças, se concentrou na praça da Cruz Vermelha, também no centro do Rio.

Mas a multiplicação não é a única característica marcante do bloco. Se o desfile sempre começa às 8h, também é de conhecimento do público que ele não tem hora para acabar. Em 2017, por exemplo, teve Boi Tolo durante mais de 12 horas por vários bairros do Rio de Janeiro. Sem trajeto definido, o bloco entra nas ruas em que é possível passar, e então uma força-tarefa de voluntários bloqueia o trânsito durante a passagem dos foliões.

Para André Morse, 39, as características do bloco não se tratam de segregação. “Pode parecer arrogante, mas é resistência”, aponta ele que frequenta o bloco todos os anos.

André destaca que o que mais gosta do bloco é a caráter colaborativo. “O Boi Tolo não é um bloco, é uma catarse. É uma reunião de pessoas que só têm o intuito de se divertirem, sem preconceito”, ressalta o folião que antes da saída do bloco já chamava a atenção com sua fantasia de palhaço nas ruas da Candelária.

O Boi Tolo não é oficializado pela Prefeitura do Rio, e os foliões acreditam que a existência dos desfiles é importante para ocupar as ruas da cidade durante o Carnaval. Para a percussionista Roberta Araújo, de 36 anos, a maior dificuldade desse aspecto é a falta de dinheiro, mas o propósito do bloco se torna ainda mais importante.

“A gente acaba bancando o bloco, não tem jeito. Mas a proposta é não seguir a cartilha da prefeitura mesmo, ocupar espaços públicos e levar a arte e a música para várias regiões da cidade”, destaca ela que usava uma fantasia de pipa enquanto se preparava para tocar em uma das bandas do bloco.

Foi em uma dessas andanças sem trajeto definido do bloco que Selma Daniel, de 60 anos, descobriu o Boi Tolo há três anos. Ela foi fisgada pelo desfile enquanto participava de outro bloco e decidiu seguir o cortejo. Neste ano, se planejou para acompanhá-lo desde a concentração. “Voltei por causa das músicas, toca muita marchinha, e é animação total”, ressalta ela que não sabia se seguiria o bloco até o fim do dia.

Já André não tem dúvida: o domingo de Carnaval é todo do Boi Tolo. Questionado se aguentaria ficar até as 20h, quando completam 12 horas de desfile, ele foi firme na resposta: “20h ainda é cedo!”.