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No palco com Magal: Roberta começou cantando no bordel

A cantora Roberta Oliveira  - Nelson Antoine/UOL
A cantora Roberta Oliveira Imagem: Nelson Antoine/UOL

Helena Bertho

Do UOL, em São Paulo

11/02/2018 18h33

"Eu sou literalmente uma filha da puta", diz a cantora Roberta Oliveira sem nenhuma vergonha. Sua mãe, Beatriz, trabalhou por muitos anos como prostituta e cafetina, e antes de dividir o trio elétrico com Sidney Magal no Carnaval paulistano, Roberta cantava no bordel de sua mãe.

"Eu tinha uns 12 ou 15 anos, não lembro, quando as coisas ficaram difíceis e mamãe foi para as ruas". Ela conta que estavam passando dificuldades, quando sua mãe ganhou em um programa mais do que ganhava o mês todo como vendedora.

A partir daí, cresceu entre as garotas de programa, até os 30 anos, quando se mudou para São Paulo.

Tentava mudar a vida das mulheres do bordel

Violência era parte da vida das mulheres que Roberta conheceu. Mas no bordel da sua mãe, elas eram tratadas com dignidade e respeito.

A cantora ainda tentava ajudar elas a melhorarem na vida. "Um dia cheguei no bordel e não me deixaram entrar, minha mãe reclamou que tinha acabado de contratar duas garotas novas e, em 10 minutos de conversa comigo, elas já queriam largar a vida para voltar a estudar ou se dedicar aos filhos", lembra ela, rindo.

Apesar de sua mãe tentar fazer as coisas diferente, acabou sendo vítima da violência. Foi assassinada no bordel, pelo sócio que não concordava com seus métodos de trabalho.

"Ela se preocupava demais com a dignidade das mulheres e para os homens, que se achavam donos das meninas, isso significa menos dinheiro".

O brega é sua voz contra a violência

Quando saiu do bordel e veio para são Paulo, Roberta foi acolhida pelos músicos do samba e sua carreira começou a mudar.

Além do seu grupo de samba, ela também usa o brega para colocar para fora sua mensagem. É a terceira vez que canta com Magal e, antes do ídolo assumir o palco, ela intercalada as músicas com gritos contra a violência de gênero. "Se um cara bater em você uma vez, é porque ele está acostumado e vai fazer de novo", gritou para a plateia, estimulando as mulheres a denunciarem a violência. "O que eu vi no bordel me deixou mais forte e formou quem eu sou".