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Temas políticos e candidatas ao título: O que esperar da 2ª noite no Rio

Desfile da Beija-Flor, campeã em 2018 - Clever Felix/Brazil Photo Press/Folhapress
Desfile da Beija-Flor, campeã em 2018 Imagem: Clever Felix/Brazil Photo Press/Folhapress

04/03/2019 10h52

A noite de segunda-feira, tradicionalmente, é tida como a mais quente no Carnaval, e mais especialmente no Rio de Janeiro. O público está mais animado, as escolas têm outra energia e os jurados estão mais pré-dispostos a atribuir notas mais altas. Neste Carnaval, a segunda noite de desfiles é marcada pela expectativa pelas passagens das duas escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro e da mais grata surpresa dos últimos Carnavais.

Tidas como "as velhas companheiras", Portela e Mangueira chegam nos braços de seus torcedores com dois dos sambas e enredos mais fortes do ano. Enquanto a Portela homenageia Clara Nunes, a Mangueira traz a história do Brasil que não foi contada nos livros, destacando personagens esquecidos e lembrando Marielle Franco. Já o Paraíso do Tuiuti traz mais um enredo com viés político e promete grandes surpresas.

A noite também terá a São Clemente retomando sua verve satírica, a Vila Isabel buscando voltar à disputa do título apostando em um tema histórico, a União da Ilha enaltecendo as belezas do Ceará e a Mocidade Independente de Padre Miguel preparando um Carnaval de superação, feito em parceria com sua comunidade.

São Clemente

Décima-primeira colocada no último Carnaval, a São Clemente resolveu voltar à sua característica mais marcante: a irreverência. Reeditando o samba-enredo de 1990, "E o samba sambou", a escola de Botafogo promete colocar o dedo na ferida e, de forma satírica, apresentar todos os pecados do Carnaval moderno. A virada de mesa que salvou a Grande Rio, o poder excessivo da televisão, a vaidade de carnavalescos e rainhas de bateria, os sambas pasteurizados e os ingressos caros estarão presentes em alas e alegorias.

O carnavalesco Jorge Silveira não teme possíveis represálias e acredita que o desfile de 2019 é uma oportunidade única para a São Clemente se redescobrir e fugir da briga pelo rebaixamento. A escola manteve praticamente o mesmo time do ano passado, com a exceção da contratação de Junior Scapin para a comissão de frente e a chegada de Bruno Ribas, que dividirá o microfone principal da escola com Leozinho Nunes.

Unidos de Vila Isabel

A Vila ganhou seu último Carnaval em 2013 e, desde então, jamais voltou ao Desfile das Campeãs. Para voltar ao grupo seleto das seis primeiras, a azul e branca do bairro de Noel Rosa promoveu uma intensa reformulação em seu time. Voltaram o diretor de Carnaval, Wilsinho Alves e o intérprete Tinga. A bateria está sob a batuta de Macaco Branco, ritmista da comunidade e músico da banda de Mart´Nália. A comissão de frente é comandada por Patrick Carvalho, que fez furor no ano passado com o Paraíso do Tuiuti.

Comandando um barracão com alegorias gigantescas e luxuosas, Edson Pereira. Campeão da Série A no ano passado pela Viradouro, o artista prepara o enredo "Em nome do pai, do filho e dos santos, a Vila canta a cidade de Pedro". Contando a história de Petrópolis, a Vila Isabel espera fazer um Carnaval de retomada e de reconciliação com a sua comunidade.

Portela

Campeã em 2017 e tendo o título posteriormente dividido com a Mocidade, a Portela continua ansiosa para levantar o caneco sozinha. E os portelenses esfregam as mãos com a possibilidade que se avizinha neste Carnaval. Exaltando Clara Nunes com o enredo "Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir um sabiá", a azul e branca vem apoiada por um ótimo samba-enredo e por todo o requinte do trabalho de Rosa Magalhães.

Rosa, como habitual, fugirá de uma abordagem cronológica para falar de Clara Nunes e abrirá o desfile falando da ligação da pintora Tarsila do Amaral com o Carnaval de Madureira. Segundo ela, Tarsila, a Portela e Clara têm em comum a brasilidade e o modernismo. Com o mesmo time do ano passado e escorada na empolgação de seus fanáticos torcedores, a Portela é forte candidata ao título.

União da Ilha

Décima colocada no ano passado, a União da Ilha do Governador vive uma situação-limite. Ou mostra força para se recolocar na disputa pelas seis vagas do Desfile das Campeãs, ou terá que lidar com o risco do rebaixamento. Com o enredo "A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu", do carnavalesco Severo Luzardo, a tricolor irá exaltar as belezas do Ceará se baseando nas obras de Rachel de Queiroz e José de Alencar.

A escola foi obrigada a fazer algumas alterações em seu time. Com a saída de Mestre Ciça para a Viradouro, promoveu dois pratas da casa, Keko e Marcelo, para o comando da bateria. Outro componente buscado no bairro foi o coreógrafo Leandro Azevedo, que pela primeira vez dirigirá uma comissão de frente no Grupo Especial. Para obter uma boa colocação, a Ilha conta com sua comunidade, que sempre desfila com muita empolgação.

Assista aos melhores momentos dos desfiles da 1ª noite no Rio

UOL Entretenimento

Paraíso do Tuiuti

A escola-sensação do Carnaval 2018 volta à Sapucaí disposta a causar furor novamente. Com o enredo "O Salvador da Pátria", o carnavalesco Jack Vasconcelos promete uma crítica bem humorada à política brasileira usando como pano de fundo o bode Ioiô, que viveu em Fortaleza há um século e chegou a ser "eleito" vereador. Com a tradicional galhofa cearense, o Tuiuti espera arrebatar as arquibancadas novamente.

Algumas mudanças no time foram sentidas. O diretor de Carnaval, Thiago Monteiro, foi para a Grande Rio e, em seu lugar, assumiu Rodrigo Soares. A comissão de frente é assinada por Felipe Moreira. Efetivados como intérpretes da escola, a dupla paulistana formada por Celsinho Mody e Grazzi Brasil. O Tuiuti quer mostrar que o que aconteceu em 2018 não foi um mero acidente.

Estação Primeira de Mangueira

Com um samba que já é cantado pelos blocos e botequins do Rio de Janeiro, a verde e rosa chega à Sapucaí com grande expectativa do público. O carnavalesco Leandro Vieira aposta, mais uma vez, em um tema politizado. "Historia para ninar gente grande" traz luz em personagens históricos que praticamente não foram abordados pelos livros de história, como Dandara, Luiza Mahin e Sepé Tiaraju. Por obra e graça dos compositores, a vereadora Marielle Franco, assassinada no ano passado, entrou no enredo - o que aumentou ainda mais a carga dramática do mesmo.

A Mangueira teve mudanças pontuais, mas importantes, em seu time. A bateria e a comissão de frente, que tiraram a escola da disputa do título em 2018, tem novos comandantes. Os ritmistas são regidos agora por Mestre Wesley. E o show de abertura será assinado por Rodrigo Negri e Priscila Mota, o casal que já fez trabalhos de impacto na Unidos da Tijuca e Grande Rio.

Mocidade Independente de Padre Miguel

Campeã em 2017, sexta colocada no ano passado, a Mocidade quer confirmar a boa fase e garantir, novamente, posição na disputa do título. Porém, o pré-Carnaval foi um tanto complicado para a verde e branca da Zona Oeste. Com severas dificuldades financeiras, a escola teve que pedir ajuda aos componentes para que comparecessem ao barracão e ajudassem a confeccionar alegorias e fantasias. Na urgência, o Carnaval ficou pronto e isso deverá ser mais um ingrediente de emoção no desfile.

O carnavalesco Alexandre Louzada prepara um desfile de impacto visual e modernismo para contar o enredo "Eu sou o tempo, tempo é vida". Com um dos melhores sambas do ano e forte em vários quesitos, como mestre-sala e porta-bandeira, bateria e comissão de frente, a Mocidade pode se credenciar à disputa pelo título caso consiga manter o padrão visual.

Anderson Baltar