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Globo enxuga ainda mais elenco fixo e até protagonistas assinam por obra

Caio Castro, que faz Dom Pedro 1º na novela das 18h, "Novo Mundo", e Dan Stulbach, o Eugênio de "A Força do Querer", das 21h, têm agora contrato por obra com a Globo - Divulgação/Montagem UOL
Caio Castro, que faz Dom Pedro 1º na novela das 18h, "Novo Mundo", e Dan Stulbach, o Eugênio de "A Força do Querer", das 21h, têm agora contrato por obra com a Globo Imagem: Divulgação/Montagem UOL

Ana Cora Lima

Do UOL,no Rio

17/08/2017 14h53

Não é de hoje que a Globo está revendo os contratos de seu elenco e agora até protagonistas trabalham "por obra", caso de Caio Castro, que faz Dom Pedro 1º na novela das 18h, "Novo Mundo", e Dan Stulbach, o Eugênio de "A Força do Querer". Ambos estão na mesma situação: tem vínculo empregatício pelo tempo que dura a produção.

No caso deles e de outros profissionais com esse tipo de acordo, a carteira é assinada e todos os benefícios previstos por lei são garantidos, além de plano de saúde, vale refeição e transporte. É preciso também seguir um código de ética e conduta, com regras rígidas para evitar problemas como assédio sexual --até as roupas usadas pelos funcionários são controladas, não é permitido saias muito curtas nem bermudas para homens.

"Eles não querem mais B.O. [boletim de ocorrência]. Um dos meus assessorados até me mostrou um cláusula falando de assédio e isso não tinha no anterior, assinado há dois anos", contou um agente, que pediu para não ser identificado.

Os contratos por obra também estão vigorando na Record. Segundo outra fonte que também pediu anonimato, na emissora paulista o artista precisa ter empresa e emitir nota. Não há benefícios nem sequer um lanche entre as gravações, o chamado "catering". A duração média varia de um a dois anos e quem está no ar ganha mais 40 %, de "produtividade".
 
Procurada a Assessoria de Comunicação da Globo informou que a emissora continua a ter contratos de prazo longo e por obra. O quadro de atores fixo da Globo, segundo nota, continua do mesmo tamanho. "A renovação se dá na composição desse quadro, que obedece a maior diversidade, representatividade e à busca pelos melhores talentos em todos os mercados como festivais, teatro, cinema, etc."
 
Já Record avisou que não pode comentar as questões contratuais.

Eri Johnson e Juliana Knust são contratados da Record como pessoas jurídicas - Divulgação/Montagem UOL - Divulgação/Montagem UOL
Eri Johnson e Juliana Knust são contratados da Record como pessoas jurídicas
Imagem: Divulgação/Montagem UOL
Kadu Moliterno, Juliana Knust e Eri Johnson viram seus contratos de décadas com a Globo não serem renovados e seguiram o caminho da concorrência. Os três estão no ar na novela "Belaventura". Maitê Proença e Danielle Winits também foram sondadas pela Record.

Depois de 35 anos como galã global, Moliterno, 65, assinou com a Record em outubro de 2015. Na época, ele confirmou a dispensa da Globo quatro meses antes. "Fui chamado para uma conversa e os diretores me disseram que não iria mais renovar os contratos longos. O meu e de muitos outros. A política agora é contrato pelo tempo que dura uma produção, seja ela novela ou minissérie. Senti o baque, claro, foram 35 anos de vínculo, renovado de quatro em quatro anos. Mas, tudo bem, os tempos estão difíceis para todo mundo.”

Juliana Knust também lamentou a dispensa. “Fiquei 20 anos na Globo e, quando resolveram não renovar contrato longo comigo, foi sofrido porque acreditava que aquilo era minha estabilidade. Depois que me vi sem contrato, movimentei minha energia para fazer acontecer. Acostumaram mal a gente, era uma coisa normal. Quando me vi nesta situação, sofri. Mas acho que isso é o futuro. As pessoas vão trabalhar por obra mesmo. Não tem empresa que resista a ficar pagando contratos para as pessoas ficarem em casa”, ponderou a atriz de 36 anos.

Priscila Fantin, Luís Fernando Guimarães, Pedro Cardoso e Fernanda Paes Leme e até mesmo diretores, como Luiz Fernando Carvalho e Wolf Maya também estão fora da Globo. Todos tinham mais de uma década de casa. 
 
O contrato de Carolina Ferraz é outro que está com os dias contados --vence no final deste mês. A assessoria de imprensa dela diz que ainda nada está resolvido sobre seu futuro dentro da Globo. O UOL apurou que outros acertos venceram em julho passado, entre eles, os de Viviane Araújo e Rômulo Arantes Neto. A assessoria da atriz confirmou que ela não tem mais vínculo com a emissora. Já a equipe que que trabalha com Rômulo não se posicionou até a publicação desta reportagem.
 
Não há nada pessoal contra nenhum dos citados. A política, que começou há cerca de quatro anos, é clara: acabar com acertos de longo prazo.

A Globo sempre teve três tipos de contratos para o elenco: por obra, por tempo determinado ou indeterminado. Pratas da casa como Glória Pires, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Antônio Fagundes, Regina Duarte, Lima Duarte, Tony Ramos e Francisco Cuoco se encaixam na última categoria.

O UOL apurou que eles têm carteira assinada como pessoa física, férias, 13° e 14º salário e plano de saúde top. No ar, eles ganham mais 40% e o direito de comer em restaurantes credenciados e pagos como despesa de produção.

A "nova geração" do primeiro escalão, incluindo Juliana Paes, Adriana Esteves, Rodrigo Lombardi, Isis Valverde, Fernanda Lima, Taís Araújo e Matheus Solano, por exemplo, trabalham com contrato por prazo determinado, em geral de três anos, os mesmos benefícios dos veteranos.

Aliás, três anos é agora o período máximo para as próximas renovações do time A e para artistas considerados uma boa aposta. Existe ainda a possibilidade, bem mais rara, de assinar com a emissora por cinco ou dez anos.

Cléo Pires, Vera Fischer e Vladmir Brichta, por exemplo, renovaram seus contratos até 2020, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem. Ano passado, um pouco antes de estrear em “Velho Chico”, Domingos Montagner havia assinado o seu primeiro contrato com a Globo, que também teria três anos de validade e foi tragicamente interrompido pela morte do ator.

Outra diferença dos novos tempos, segundo o UOL apurou, é o reajuste salarial, que costumava ser a cada dois anos, e tem sofrido baixas. Mas cada caso é um caso.

Recentemente, Carolina Ferraz, Daniele Winits e Maitê Proença perderam seus contratos longos com a Globo - Reprodução/Montagem UOL - Reprodução/Montagem UOL
Recentemente, Carolina Ferraz, Daniele Winits e Maitê Proença perderam seus contratos longos com a Globo
Imagem: Reprodução/Montagem UOL