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Crivella corta verbas para escolas da Sapucaí e atinge em cheio a Série A

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) - Roberto Herrera/Estadão Conteúdo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) Imagem: Roberto Herrera/Estadão Conteúdo

30/08/2019 16h06

Não há qualquer surpresa ou novidade no anúncio feito na manhã de hoje pelo prefeito Marcelo Crivella de que não haveria subvenção pública para os desfiles do Grupo Especial para o Carnaval 2020. Afinal, desde que assumiu o cargo em 2017, o alcaide só demonstrou, desde os primeiros dias de governo, que não faria qualquer gesto de aproximação com os sambistas - a quem foi pedir o apoio antes das eleições e até cantou samba antigo do Salgueiro em ato com dirigentes da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).

De novo, o que Crivella fez, foi o de afirmar, pela primeira vez, algo que realmente fará. Em 2017, após prometer que o Carnaval não sofreria qualquer modificação em sua gestão, anunciou, em meio aos preparativos, a redução da subvenção de R$ 2 milhões por escola para a metade deste valor. No ano seguinte, o valor foi novamente cortado pela metade, sem qualquer comunicação aos dirigentes e em um momento em que vários compromissos já haviam sido assumidos. O quadro de cortes estava tão cristalizado que, para 2020, praticamente nenhum gestor de Carnaval contava com a verba oficial.

A discussão sobre o uso do dinheiro público no Carnaval é complexa e não pode ser vista de forma simplista e/ou simplória. Evidentemente, as escolas de samba do Grupo Especial possuem condições de levantar outras fontes de verbas - e isto é extremamente necessário. Mesmo sofrendo o impacto dos cortes, as agremiações continuarão a fazer seus desfiles com o brilho de sempre e, em muitas vezes, com diversas soluções criativas por meio de seus carnavalescos.

O grande problema é que Crivella, por má-fé ou desconhecimento, ao dizer que não colocará dinheiro público em desfiles com cobrança de ingressos, coloca no mesmo balaio as escolas de Série A, equivalente ao Grupo de Acesso. Estas agremiações não possuem o mesmo poder de faturamento do Grupo Especial e recebem uma verba infinitamente menor de transmissão televisiva e bilheteria. Se, no desfile principal, um ingresso de arquibancada chega a casa dos R$ 400, na Série A, o mesmo bihete custa R$ 20. A frisa, no Grupo Especial é vendida por mais de R$ 6 mil - no desfile do Acesso, não chega a R$ 1 mil.

Crivella afirma que os desfiles da Intendente Magalhães, de cunho extremamente popular e sem cobrança de ingressos, continuarão a ser apoiados pela prefeitura. Porém, a diferença da Série A para estas escolas não é muito grande. Apesar de estarem a um degrau do desfile principal, hoje, estas agremiações passam por dificuldades financeiras e estruturais semelhantes. Se as grandes escolas possuem a Cidade do Samba para a confecção dos seus desfiles, pelo menos a maioria das escolas da Série A encontram-se sem barracão e sem qualquer perspectiva de ajuda por meio do poder público para encontrar um espaço para fazer seus Carnavais.

Em encontro realizado ontem com dirigentes da Lierj (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), responsável pela Série A, o presidente da Riotur, Marcelo Alves, garantiu que as escolas deste grupo receberiam a subvenção. Após o anúncio de hoje de Crivella, uma nuvem de incertezas cobre este desfile. E a questão é ainda mais delicada: não basta pagar a subvenção, ela tem que ser depositada em tempo hábil para viabilizar os desfiles. Cabe lembrar que, em 2019, as escolas receberam as verbas na sexta-feira de Carnaval.

Anderson Baltar