No Rio, blocos de afoxé usam Carnaval para combater intolerância religiosa
O culto à ancestralidade dá o tom dos desfiles do Filhos de Gandhi, mas não é só este bloco que exalta a cultura afro no Rio de Janeiro. Nesta segunda, o bloco Afoxé Ilê Alá também fez seu cortejo na orla de Copacabana, zona sul da cidade.
À frente da charanga, a percussão do bloco, estava Pedro Vinícius, de 19 anos. Ainda que com pouca idade, cabe ao rapaz a função de definir o repertório e organizar os músicos. E é ele, também, quem define a importância dos desfiles de Carnaval para o povo de candomblé.
“Eu acho que o Carnaval é uma forma da gente protestar, também, da gente poder se defender de quem se volta contra a gente. A gente quer mostrar que afoxé é cultura, candomblé é cultura. A gente quer mostrar que é um povo cultuando a sua fé, e acho muito importante poder mostrar isso no Carnaval”, destaca ele.
Mesmo com o atraso de duas horas, o bloco ocupou a orla de Copacabana, na zona sul do Rio, ao som de atabaques e cânticos em homenagem aos orixás. Com o Pão de Açúcar e o mar de Copacabana como cenário, foi a terceira apresentação do Ilê Ilá.
Já o Bloco Afoxé Filhos de Gandhi desfila três vezes durante a folia, e há 30 anos, Elizete Souza participa. Atualmente, ela faz parte da equipe responsável por confeccionar os abadás usados pelos integrantes e nos dias de saída do bloco se disponibiliza a vender os fios de conta e as camisetas para quem tiver interesse. Ela define a relação com a função como amor e ódio: amor pelo trabalho e ódio por possíveis acidentes no percurso.
“Mas quando a gente vê o Carnaval na rua, vê que todos os problemas acabaram e que a nossa ancestralidade está sendo, a cada dia, mais renovada e respeitada”, afirma ela enquanto arruma, de última hora, um abadá.
Para Marta Ferreira, 63, presidente do Afoxé Ilê Ilá, os desfiles de Carnaval mostram que o candomblé é da rua. “O objetivo é mostrar que somos cultura, somos amor, mostrar que queremos paz e união de todos os povos, independentemente da religião”, ressalta.
E o desfile atrai inclusive curiosos e simpatizantes de fora do Rio de Janeiro. Os mineiros Carolina Carvalho, 23, e Henrique Coelho, 22, descobriram o bloco durante uma pesquisa na internet e dedicaram o sábado a acompanhar os cortejos. “Acho que o Carnaval é um momento propício para eles mostrarem a cultura, porque o pessoal dá mais valor”, aponta Carolina.
E Marta decreta: “Nós não temos preconceito. Aceitamos pretos, brancos, pobres e ricos. A gente trabalha com amor, e quem trabalha com amor não tem preconceito. O Carnaval é o momento de mostrar quem somos nós e a que viemos.”
A julgar pelas centenas de foliões que acompanharam os cortejos na tarde desta segunda (12), a mensagem está sendo bem transmitida.
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